Antes mesmo da regulamentação oficial do Auxílio Emergencial, o Brasil já estava em plena mobilização para executar o maior programa de transferência de renda da história do país. De acordo com Pedro Guimarães, PhD em Economia pela University of Rochester, Mestre em Economia pela FGV/RJ, graduado em Economia pela PUC/RJ e ex-presidente da Caixa Econômica Federal, os primeiros 15 dias após o Decreto nº 10.316, de 07 de abril de 2020, foram marcados por decisões estratégicas, comunicação intensa e trabalho ininterrupto. Mas, para entender o impacto, é preciso voltar ainda mais — aos bastidores de março de 2020.
A primeira reação: mobilização antes mesmo da lei
No dia 27 de março de 2020, ainda sem a sanção da Lei 13.982 e duas semanas antes do Decreto que autorizaria os pagamentos, Pedro Guimarães participou da primeira entrevista coletiva no Palácio do Planalto sobre a pandemia. Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, do então presidente do Banco Central, Roberto Campos, e de Gustavo Montezano, ex-presidente do BNDES, ele apresentou as primeiras diretrizes de ação. As imagens daquele momento, em que apontava com as mãos seis medidas prioritárias, mostram o protagonismo da Caixa Econômica Federal ainda nos estágios iniciais da crise sanitária.
Conforme destaca Pedro Guimarães, essa antecipação foi fundamental para que o país estivesse tecnicamente preparado quando a legislação foi oficialmente promulgada. A logística já estava sendo desenhada antes mesmo de existir autorização legal para o pagamento.
A liderança técnica na linha de frente da crise
No dia 2 de abril de 2020, a Lei 13.982 foi sancionada, criando oficialmente o Auxílio Emergencial. No dia seguinte, 3 de abril, em entrevista transmitida pela TV Brasil e pela CNN, Pedro Guimarães detalhou os planos para operacionalizar o programa, que ainda era chamado informalmente de “coronavoucher”. Ao lado do então Ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, reforçou o compromisso do governo com a agilidade e a inclusão.
De acordo com Pedro Guimarães, a Caixa atuou como coordenadora das ações sociais desde o início. Foram estabelecidos canais de comunicação diários com o Governo Federal e articulações internas com o Dataprev, o Ministério da Cidadania e a Secretaria de Governo para garantir que todos os fluxos de dados e pagamentos funcionassem sem atrasos.
Desenvolvimento do app e triagem dos beneficiários
Com a regulamentação em 7 de abril, a missão passou a ser transformar um programa em execução. Em tempo recorde, foi desenvolvido o aplicativo Auxílio Emergencial, que recebeu 108 milhões de cadastros — o equivalente a 71% da população adulta brasileira. Os dados foram processados com apoio do Dataprev e, após análise dos critérios legais, 67 milhões de pessoas foram aprovadas.
Assim como frisa Pedro Guimarães, esse número foi inédito no mundo. Nenhum país havia alcançado tanta gente, com tanta rapidez, por meio de um sistema 100% digital. Para garantir o pagamento, foi criado outro aplicativo, o Caixa Tem, que se tornou um dos maiores instrumentos de inclusão financeira do país.
O início dos pagamentos: uma operação nacional
O pagamento do Auxílio Emergencial começou no dia 15 de abril, exatamente oito dias após a promulgação do Decreto. Em apenas quatro dias, segundo dados da Caixa divulgados em 19 de abril, 17,9 milhões de brasileiros já haviam recebido o valor. Mais de R$ 12,2 bilhões foram liberados, envolvendo os beneficiários do Bolsa Família, do CadÚnico e os inscritos via app.
Conforme aponta Pedro Guimarães, a complexidade foi ainda maior nos primeiros dias, já que muitos ainda precisavam ir presencialmente às agências e lotéricas. A Caixa passou a operar aos sábados, com a abertura de 799 agências inicialmente, número que chegou a 1.500 nos meses seguintes. A atuação dos colaboradores ficou marcada por uma dedicação extraordinária, sendo reconhecidos como os “heróis de crachá” em diversas postagens oficiais.
Transparência e prestação de contas ao país
No dia 20 de abril, em nova entrevista coletiva ao lado de Onyx Lorenzoni no Palácio do Planalto, Pedro Guimarães apresentou os resultados atualizados: 24,2 milhões de pessoas beneficiadas e R$ 16,3 bilhões pagos. A Caixa também detalhou que, dos valores já liberados, R$ 4,5 bilhões foram destinados a 5,8 milhões de beneficiários do Bolsa Família, R$ 6,3 bilhões a 9,3 milhões do CadÚnico e R$ 5,5 bilhões a 9,1 milhões via Caixa Tem.
A participação constante nas mídias — incluindo entrevistas à CNN e ao programa do Datena — reforçou o compromisso com a transparência. Pedro Guimarães fez questão de explicar, em cada oportunidade, o funcionamento do processo, os critérios de seleção e as formas de acesso ao benefício.
Um feito que começou antes da urgência virar regra
O que muitos não percebem é que, antes mesmo de o Auxílio Emergencial ser aprovado, a estrutura que viabilizaria o pagamento já estava sendo construída. De acordo com Pedro Guimarães, foi essa antecipação que possibilitou transformar o que parecia impossível em realidade: entregar, com responsabilidade e eficiência, recursos essenciais a milhões de brasileiros em um dos momentos mais delicados da história do país.
A ação integrada entre governo, tecnologia, comunicação e logística revelou não apenas capacidade técnica, mas um compromisso institucional com o Brasil real — aquele que, em abril de 2020, precisava de resposta imediata. E teve.
Autor: Grigory Chernov